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Urbanismo e Paisagismo - Orlas

Projeto de urbanização da Orla da Praia de Ubu, Anchieta-ES (ano de 2022)
(Contrato da Avantec Eng. Projeto realizado em parceria)
Diagnóstico Urbanístico

A região de Ubu, no município de Anchieta, litoral sul do Espírito Santo, faz parte da história inicial da colonização portuguesa em nosso Estado. Dos povos originários, indígenas que por séculos ocuparam a faixa litorânea brasileira até a chegada dos portugueses e com eles, a cultura europeia e a religião cristã, representada na figura dos primeiros clérigos jesuítas que aportaram junto com os colonizadores e que mudariam toda a paisagem local.

Os padres jesuítas estabeleceram a grande maioria das primeiras vilas litorâneas, através da catequização e aldeamento dos indígenas locais, como foi o caso de Riritiba, aldeia fundada em 1569 que viria originar a cidade de Anchieta, nome esse dado em homenagem a um dos mais importantes catequizadores jesuítas em solo brasileiro, o Padre José de Anchieta, que funda e se estabelece na vila e vem a falecer no ano de 1597.

A região de Ubu, por sua vez, ganha esse nome, segundo a tradição oral, devido a um fato insólito: teria sido essa praia, em que ao transportarem o corpo falecido do Padre Anchieta para seu sepultamento na Igreja de São Tiago, na Vila de Vitória (sede da então colônia do Espírito Santo), esse teria caído da rede onde era transportado e se fez ouvir a expressão de espanto dos índios: “O padre caiu”, ou, Aba-ubu. Antes disso, porém, a praia de Ubu foi trajeto de andanças dos padres jesuítas, inclusive de Padre Anchieta enquanto vivo, trajeto de ligação entre a Casa e Igreja de Riritiba e a sede dos jesuítas no Espírito Santo, no Colégio, Residência e Igreja de São Tiago, na Vila da Vitória. Por esse motivo, a praia de Ubu faz parte dos Passos de Anchieta, tradicional caminhada de quatro dias de fiéis que seguem os passos de Anchieta, com saída da cidade de Vitória até a cidade de Anchieta.

Com uma extensão de pouco mais 1.2 Km, a orla de Ubu, atualmente se apresenta com características bem bucólicas, com ares ainda de uma antiga vila de pescadores, casarios antigos e vida pacata, mas, transfigurando-se em um local de grande movimentação na época das férias de verão. A estrutura precária de sua orla, composta por 14 quiosques (com pequenos banheiros integrados) esparsados pela extensão da estreita faixa de areia entre a praia e as avenidas Mario Pereira das Neves e Manoel Miranda Garcia, não dá conta da população que circula na região na temporada de verão.

Seguindo o trajeto realizado em visita à orla de Ubu,  têm-se que no início do trajeto a praia termina em um morro que abre vistas à toda extensão da orla de Ubu, possuindo ainda uma trilha em meio à área de preservação do local. Esse trecho inicial da praia, pela sua característica de águas mais tranquilas é o local de reunião de pescadores locais e embarque e desembarque de suas pequenas embarcações, através de uma rampa que desce até a areia da praia. Em quase toda extensão da orla de Ubu, a faixa de areia da praia é separada do faixa urbanizada/ocupada por um muro de arrimo que varia de nível, trecho a trecho. O trecho inicial da orla até uma extensão de pouco mais de 180 metros à frente, é a parte com maior desnível entre a areia e a faixa urbanizada. Este mesmo trecho é ainda pavimentado por um piso cimentado, muito provavelmente feito pelos locais. O piso é irregular e as árvores e coqueiros existentes no local não possuem golas em volta dos troncos que facilitam a absorção das águas das chuvas e da drenagem do piso. A orla possui alguns monumentos erguidos em formato de bustos históricos (dois não identificados na visita), uma simbólica dos mitos populares ligada às tradições do mar, como é a sereia e, por último, a cruz cristã que segundo relatos históricos, representa o lugar onde o corpo de Padre Anchieta havia caído durante seu cortejo a caminho da Vila de Vitória, e que teria dado nome ao lugar.

A orla também possui 14 módulos de quiosques espaçados ao longo de sua extensão, em sua grande maioria formados por duplas de pequenos quiosques com pouco mais de 15 m² de área, com banheiros masculino e feminino integrados e não adaptados para pessoas com deficiência física (PCD), segundo a norma ABNT NBR 9050:2020. Seus telhados de 6 águas cobrem somente a edificação e por conta disso, os quiosqueiros se utilizam de outros meios para cobrirem suas respectivas áreas de mesas e cadeiras e, em outros casos, ampliações foram realizadas nas edificações para se conseguir mais área interna de atendimento e/ou preparo de alimentos.

Além dos quiosques edificados, a Orla de Ubu possui dois postos de salva-vidas e três pontos de ônibus onde param ônibus municipais e intermunicipais. As vagas de estacionamento de veículos particulares estão marcadas ao longo da orla, em paralelo ao meio fio desta ou em formato de vagas em 45°, que se estendem até próximo à Praça da Sereia, na av. Mario Pereira das Neves. Durante o verão são várias as reclamações dos moradores locais sobre estacionamentos irregulares que atrapalham as garagens das casas fronteiriças às vias principais da orla. A iluminação pública também é precária, pois se limita aos postes de onze metros de altura que invariavelmente tem sua iluminação encoberta pelas copas das árvores, que criam grandes área escuras na orla.

Intervenção Urbanística

A intervenção urbanística na Orla de Ubu, em Anchieta (ES), se desenvolve a partir de três premissas básicas: a primeira, a de organizar e dar infraestrutura adequada aos usuários, implantando novos modelos de quiosques, banheiros e outros equipamentos e mobiliários públicos; a segunda, a de preservar ao máximo a vegetação existente fazendo com que a urbanização proposta se desenvolva entre/com ela e, por último, mas não menos importante, a reafirmação histórica do lugar, marcada ao longo da intervenção. A área total de intervenção da orla, incluindo-se áreas anexas descritas mais a frente, é de 13.176,84 m², em mais de 1.200 m de extensão (ver tabela de áreas mais a frente).

As estruturas existentes de quiosques e banheiros serão demolidas para dar lugar às novas edificações e a reurbanização de toda a extensão da orla. Serão mantidos os alinhamentos dos arrimos existentes na orla, que limitam a faixa urbanizada com a faixa de areia, sem avanços sobre essa faixa não edificante, além da recuperação e/ou reforço das estruturas dos arrimos onde for necessário.

O mesmo acontecerá no alinhamento dos meios-fios que limitam a urbanização com as ruas Manoel Miranda Garcia e Mario Pereira das Neves (ruas paralelas à orla), sendo que, em comum acordo com a Prefeitura Municipal de Anchieta, o trecho final da orla terá seu meio-fio ampliado sobre a rua Mario Pereira das Neves, para aumentar a área urbanizada. A ampliação se justifica por ser esse trecho o mais estreito da orla. Essa ampliação deverá ser seguida pela limitação e o controle do acesso de veículos a essa área, para dar conforto aos moradores locais, bem como aos usuários da orla. Além dessa área anexada à urbanização da orla, a pequena praça existente no cruzamento entre as ruas Manoel Miranda e a rua do Trevo – uma rotatória resultante desse cruzamento – será também anexada à urbanização e transformada em uma nova área para equipamentos públicos, como play-ground, academia popular etc.

Além de todo o paisagismo em desenvolvimento para esse projeto, com a preservação de grande parte das árvores e coqueiros existentes ao longo da orla e a inclusão de novas espécies nativas de pequeno e médio porte, uma extensa faixa da área urbanizável, a pedido da Secretaria de Meio Ambiente de Anchieta, será reservada para recuperação da vegetação de restinga, totalizando uma área de 575,95 m², além dos 8.870,44 m² de área de passeio e paisagismo integrados em canteiros.  

 

Optou-se para esse projeto, a não inclusão de uma faixa de ciclovia delimitada por caixa específica sobre o calçadão/passeio, pela pouca largura existente em boa parte dos trechos urbanizados. Para tanto, propõem-se que o próprio passeio de forma sinalizada (através de sinalização vertical ao longo da orla e de campanhas educativas) torne-se uma superfície compartilhável entre ciclistas e pedestres, ainda mais considerando a pouca extensão da orla e as peculiaridades de seu relevo, além da grande quantidade de árvores e coqueiros existentes e que serão mantidos no projeto. Há em contrapartida, um projeto em desenvolvimento pela municipalidade de uma ciclovia que sairá da rodovia e cortará pelas ruas internas de Ubu e que ao chegar à orla, poderá ser transformada em compartilhável com o calçadão, com uso exclusivo de bicicletas para passeio (baixas velocidades).

As propostas, em geral, buscam esse contato com o hoje e a própria história do lugar, querendo ser, de certo modo, um elo entre o passado e o constante presente que se constrói todos os dias na orla de Ubu, e na cidade de Anchieta. Respeitam a praia, recuperam sua história, trazem de volta parte de seu bioma e congregam em seus espaços, usuários locais, visitantes e turistas de forma harmoniosa e organizada. Ao mesmo tempo, o projeto dá a cidade de Anchieta um novo espaço público democrático que integra o lazer, o convívio e as belezas naturais desse lugar histórico.

Projeto de urbanização da Orla do rio Jacaraípe, Serra-ES (ano de 2011)
(projeto em parceria com a Avantec Eng.)

Projeto de urbanização do rio Jacaraípe,  no ano de 2011, realizado como parte dos projetos de alargamento e desassoreamento do leito do rio com vista a impedir as constantes enchentes que ocorriam nos bairros do entorno do rio. Além de uma extensa área de caminhadas e contemplação da paisagem desse rio que deságua no mar da região de Jacaraípe, a urbanização ainda contou com a criação de praças públicas nos vazios criados pelas desapropriações realizadas nas edificações construídas sobre às margens do rio. O projeto se completa com a intervenção realizada na foz do rio, construída anteriormente. 

Estudo para a Orla de Piúma-ES (ano de 2012)
(estudo em parceria com a a Avantec Eng.)

Em 2012 foi solicitado o estudo para a uurbanizaçãoda orla central da cidade de Piúma, no sul do Espírito Santo. O ponto inicial foi o desenho de um modelo de quiosque mais expressivo de linhas sinuosas, onde abrigasse o atendimento, cozinha e depósito. A distribuição ao longo da orla seria feita a partir de módulos duplos de quiosques, afastados de acordo com as normas do IEMA ES, órgão do meio ambiente do Espírito Santo, e entre os mesmos, módulos de banheiros masculino e feminino adaptados para deficientes físicos. A linha curva das coberturas dos quiosques abrigaria um jardim (teto-jardim) que se uniria aos canteiros formando um único elemento verde. Além disso, criaria sombra, proteção e menores temperaturas no interior do quiosque. A paginação dos pisos da orla e o design dos guarda-corpos fazem referência aos elementos do mar.   

Orla de Piuma
Projeto de urbanização da Orla da Praia do Morro, Guarapari-ES (ano de 2009-2019)- proj. executivo
(projeto em parceria com a Avantec Eng.)

 O caminhar pela nova orla da Praia do Morro é uma sucessão de uma paisagem (a orla mais a praia e as edificações) com várias e diferentes ambientações que se fazem pela sobreposição de imagens que vão se formando pela combinação dos desenhos diferenciados dos pisos, dos canteiros com suas árvores, arbustos e forragens, pelos quiosques e banheiros com seus revestimentos coloridos e elementos arquitetônicos, pela variedade de materiais especificados e que interagem entre si, e por ultimo, pela própria presença das pessoas que retomarão a orla da Praia do Morro como sua, como seu espaço público democrático por natureza.

Praia do Morro
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